quarta-feira, 11 de junho de 2014

Velhice

Nanda esticou a pele ao redor do olho. Envelhecia descaradamente. Abafou o suspiro, não queria admitir isso para si mesma. Tantos anos tinham passado, inúmeros projetos feitos e refeitos, tantos amores perdidos... E ela envelhecia na cidade suja. Agora desprovida de sentimentos e sonhos, Nanda caminha para o closet onde procura o vestido preto básico. Combinara de tomar uma cerveja com as amigas, afinal era sexta-feira. Seu empreguinho de operadora de caixa ao menos lhe permitia algumas horas em companhia de uma cerveja boa e de amigas ruins. Eram outros que envelheciam, seus amigos. A juventude há tempos fugira de seu cotidiano, lhe obrigado a ficar com os que tinham se deixado derrotar. Enfim, Nanda estava infeliz. Nanda estava melancólica. Nanda estava velha.

Decidiu ir a pé, embora o bar ficasse a 1 km e meio de distância. O céu estrelado e a lua gigante não conseguia animá-la. O que acontecera, ela se viu perguntando. O que diabos eu fiz da minha vida? Eu não era a “menina prodígio”, a que teria um futuro brilhante pela frente?

Nada lhe restava, nem sequer o amor próprio.

No bar fingiu rir, fingiu estar bem, fingiu se importar com suas colegas. No fundo todas elas eram iguais: Frígidas.

No fundo, Nanda pensou, todas elas estavam ficando velhas.


 - Meu Deus – Nanda falou em voz alta o bastante para deixar suas amigas confusas – eu estou ficando velha.