sábado, 30 de janeiro de 2016

Ele Não Mora Mais Aqui

Ele abaixou a cabeça como se fosse chorar, mas não choraria mais nenhuma lágrima sequer. O corpo dolorido, o rosto chupado depois de tantos meses de lutas inúteis e expectativas frustradas. Antes lhe havia vida entregue num doce festim convidativo. Mas agora a coisa mudou de figura e uma nuvem escura pairava sobre sua cabeça. A natasha pela metade diante dele, o maço de dunhill amassado, ainda o cheiro de gozo entranhado nele. O gozo dele. A foda de despedida, e aquilo doía nele como mil facas na carne. Acabou então, acabou uma coisa tida como infindável. Infindável, infinito, infalível. Ele adorava dizer palavras com "in". E ele, o que foi embora, ria num sorriso que fazia o brilho do sol parecer um flash de uma câmera. Era a pior parte, o sorriso. Dele havia arrancado pecados e medos, delírios e forças. Mas agora acabou, ele disse em voz alta, acabou acabou acabou
Não há mais nada sob esse sol
Então se levantou e caminhou até a janela. E ali nada viu, pois sua visão estava turva de lágrimas.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Signo & Ascendentes

A lembrança queima como ferro em brasa, meu amor. O prazer doado e aceito naquele doce amanhecer me vara os dias como uma flecha incendiária num milharal. Teu olhar de "sabe tudo", teu sorriso enviesado, cabelos negros como a noite que acabava de findar, juntos numa dança perpétua em minha memória. E dói, meu querido. Dói bastante. Porque eu tenho quase certeza que isso não vai se repetir, que aquilo que houve entre nós talvez seja mais uma lembrança pra você. Mais uma foda com um homossexual qualquer. Mas pra mim não, pra mim jamais. 

Acredito que isso não seja amor. Ainda não sinto as mazelas desse horrível penar. Mas meu signo solar e meu ascendente me delatam, e você é esperto o suficiente pra saber que é arriscado demais permanecer por perto. O seu próprio signo também denuncia seu desprezo por relacionamentos (se é que posso me confiar nisso), mesmo embora lá no fundo eu acredite que você também seja mais um a procurar o homem certo.

Foi denso e foi leve, sutil e delicado como uma brisa. Tuas mãos hábeis, meu receio em avançar, nossas bocas se fundindo num festim sensual, balançando como as ondas do mar que estava à um palmo de distância de nós, também vimos enfim o nascer do sol. E do contrário do que se anunciava, o nascer do dia, a noite infelizmente tinha terminado. E enfim você foi embora. E eu dormi o sonho dos justos, com o coração mais alegre e leve.

Mas também temendo, temendo meu maldito signo solar e meu maldito ascendente. E como eu te temo também. A lembrança é boa demais para ser apagada ou ignorada. O que posso fazer é sentar e lembrar. E mais uma vez voltar pra aquele doce amanhecer.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Aprendizagem

Eu aprendi a lidar com coisas que sempre achei que nunca lidaria. Acredito que a maturidade te obriga a isso, aturar gente que você não gosta e a pagar contas. Eu aprendi que existe coisas bem maiores lá fora, pessoas vivendo e a natureza agonizando. Você enfim aprende que sua vida não é o fator motriz da existência, e que sem a sua "preciosa vida" a existência vai muito bem, obrigada. Eu aprendi que paixões vem e vão como folhas secas no quintal, e que você vai esquecer o nome daquela paquera da época de ginásio.

Eu constantemente aprendo a levantar após apanhar. Ficar no chão só permite que os outros passem por cima de você. Você vira um tapete gasto, se permitir, cheio de marcas desconhecidas mas que causam asco ao visitante. Você também aprende a vigiar sua própria porta, e que ninguém pode entrar sem sua permissão. Você até pode ser de ferro, mas não o seu coração.

Eu aprendi enfim que a vida venta para todos e em todos os lugares.

Mas às vezes é difícil enxergar no meio dessa ventania.