sábado, 30 de janeiro de 2016

Ele Não Mora Mais Aqui

Ele abaixou a cabeça como se fosse chorar, mas não choraria mais nenhuma lágrima sequer. O corpo dolorido, o rosto chupado depois de tantos meses de lutas inúteis e expectativas frustradas. Antes lhe havia vida entregue num doce festim convidativo. Mas agora a coisa mudou de figura e uma nuvem escura pairava sobre sua cabeça. A natasha pela metade diante dele, o maço de dunhill amassado, ainda o cheiro de gozo entranhado nele. O gozo dele. A foda de despedida, e aquilo doía nele como mil facas na carne. Acabou então, acabou uma coisa tida como infindável. Infindável, infinito, infalível. Ele adorava dizer palavras com "in". E ele, o que foi embora, ria num sorriso que fazia o brilho do sol parecer um flash de uma câmera. Era a pior parte, o sorriso. Dele havia arrancado pecados e medos, delírios e forças. Mas agora acabou, ele disse em voz alta, acabou acabou acabou
Não há mais nada sob esse sol
Então se levantou e caminhou até a janela. E ali nada viu, pois sua visão estava turva de lágrimas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário