quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Nós Não Sabíamos Amar


Não sei exatamente, mas eu tenho uma enorme vontade de voltar ao apartamento dele e perguntar a fatídica pergunta: Você aprendeu amar? Se ele me respondesse que sim, eu juro que largaria tudo e me jogaria em seus braços mais uma vez. Eu não considero as consequências desse ato. Eu não me importo com o que a mãe maluca dele irá dizer. Apenas quero ouvir: Sim, eu aprendi a amar. 

Nenhum de nós dois sabíamos amar. Éramos crianças confusas brincando no quintal em uma tarde de outono. O quintal era os nossos corpos. Tateávamos a procura da alma que supostamente emerge na pele. Nada encontrávamos. Mergulhávamos em um estado de total entrega e torpor naquelas noites de setembro. A alma nunca emergia, e nós estávamos nos cansando daquilo. Porque nós não sabíamos amar. Ninguém sabe, acho. Apenas lemos o que Camões escreveu, nos inspiramos, e procuramos desesperadamente alguém com quem praticar aquelas coisas. Se é que o amor é praticável, lógico. 

Aí ele foi embora, ou eu decidi ficar. O importante é que nós separamos. Pois nós não sabíamos amar. Triste, mas é a verdade. 

Tomei coragem e fui ao apartamento dele. O buquê de flores murchas a colorir o ambiente cinza do edifício. Ele abriu, mas não sorriu como outrora fazia. Apenas soltou uma exclamação de desprezo, e disse para ir embora. Tentei argumentar, tentei dizer que ambos podíamos aprender a amar. Ele disse que já sabia amar, há tempos sabia. Ele só não tinha aprendido a me amar. Fechou a porta, e qualquer possibilidade de eu reentrar na vida dele.

Fui embora, me ocupei com a vida. Esqueci, superei. Estou bem. 

Mas tenho certeza de que ele ainda não aprendeu a amar. Ninguém sabe, imagino.

As Palavras Incompreensíveis de uma Alma Confusa


Talvez em outro tempo eu soubesse o que fazer. Mas hoje, tão inundado com esses problemas, não consigo pensar em nada. Não me refiro somente aos problemas práticos e corriqueiros, mas principalmente aos problemas internos. Sabe, aqueles besouros que desatinam a nos incomodar.

Quando me ponho a pensar na grandiosidade da vida e das coisas, percebo que entro em um estado letárgico. Talvez Platão esteja correto acerca do “mundo perfeito acessível apenas pela razão”. Quando ouso questionar Deus, quando digo que as coisas para mim são diferentes, sinto um choque. Algo varre meu ser. Eu não sei o que é, e não sei se é Deus. Só sei que eu sinto e por nome Dele, percebo que sou demasiadamente humano.

“Só o sofrimento nos torna humanos”. Eu concordo com isso, Unamuno. Pois que outro ser sofre como nós? Que outro ser parece ter uma queda, uma simpatia, um desejo pela dor? Isso é tão sádico. Mas gostamos, adoramos isso. 

Então agora entramos em amor. O tema parecia inevitável. Somos animais sentimentais fuçando a relva da vida. Há humanos que conseguem viver sem amor, mas eu me pergunto: Será que eles são felizes? Duvido.

Mas eu duvido da minha própria sombra. Eu não tenho o direito de questionar a vida de ninguém. Eu vou ficar aqui, pensando e comtemplando o vazio.