Não sei exatamente, mas eu tenho uma enorme vontade de voltar
ao apartamento dele e perguntar a fatídica pergunta: Você aprendeu amar? Se ele
me respondesse que sim, eu juro que largaria tudo e me jogaria em seus braços
mais uma vez. Eu não considero as consequências desse ato. Eu não me importo
com o que a mãe maluca dele irá dizer. Apenas quero ouvir: Sim, eu aprendi a
amar.
Nenhum de nós dois sabíamos amar. Éramos crianças confusas
brincando no quintal em uma tarde de outono. O quintal era os nossos corpos.
Tateávamos a procura da alma que supostamente emerge na pele. Nada
encontrávamos. Mergulhávamos em um estado de total entrega e torpor naquelas
noites de setembro. A alma nunca emergia, e nós estávamos nos cansando daquilo.
Porque nós não sabíamos amar. Ninguém sabe, acho. Apenas lemos o que Camões
escreveu, nos inspiramos, e procuramos desesperadamente alguém com quem
praticar aquelas coisas. Se é que o amor é praticável, lógico.
Aí ele foi embora, ou eu decidi ficar. O importante é que nós
separamos. Pois nós não sabíamos amar. Triste, mas é a verdade.
Tomei coragem e fui ao apartamento dele. O buquê de flores
murchas a colorir o ambiente cinza do edifício. Ele abriu, mas não sorriu como
outrora fazia. Apenas soltou uma exclamação de desprezo, e disse para ir
embora. Tentei argumentar, tentei dizer que ambos podíamos aprender a amar. Ele
disse que já sabia amar, há tempos sabia. Ele só não tinha aprendido a me amar.
Fechou a porta, e qualquer possibilidade de eu reentrar na vida dele.
Fui embora, me ocupei com a vida. Esqueci, superei. Estou
bem.
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