Mas as palavras continuavam a latejar como uma ferida inflamada. Carmen se sentia bamba, sem equilíbrio. Gustavo, inflexível e imponente do outro da sala, continuava encarando-a de uma forma perversa. Ele era perverso. Carmen não conseguia compreender a razão ou embriaguez que a fizera gostar dele. E Gustavo continuava a encarar, com os olhos se tornando negros a cada segundo. Carmen agora tinha medo. Mas ela sempre teve medo.
As palavras confortavam-na. Depois que Gustavo lhe batia, ela sentia os beijos úmidos e cheios de pedidos de desculpas. Faziam amor, ou era isso que chamavam. Carmen era apenas montada como se fosse uma égua, penetrada tão forçosamente que doía. Ela não facilitava, apanhava de novo. Um olho inchado, um lábio ferido e o ego destroçado eram o saldo da noite.
As palavras são vingativas, saem em uma torrente de verdades
quando ela enfia a faca nas costas de Gustavo. As palavras são penosas, quando
ele em uma poça de sangue suplica misericórdia. As palavras eram de culpa,
quando o último suspiro escapuliu dos lábios do crápula. As palavras eram de
confissão, diante da polícia. As palavras eram silenciadas, diante de um júri.
As palavras eram abafadas aos murros dentro de uma cela. As palavras lhe eram
guardadas, até se transformarem em pensamentos obscuros.
As
palavras agora eram de arrependimento, conformismo e saudade.
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