Seu corpo estremeceu após o
orgasmo. Era engraçado, mesmo após tantas e tantas masturbações. Tinha 15 anos,
o auge da puberdade. Estava divido entre o prazer e a culpa, entre o gostoso e
o doloroso. Ia todos os domingos à igreja, sem titubear. Entoava os cânticos o
mais alto que podia, lia fervorosamente os versículos. Mas sentia que havia
algo mais morando no seu interior. Algo que arranhava as paredes do seu ser,
louco para escapar. Mas ele conseguia adormecer a fera, ano após ano.
Tinha 17 anos quando teve
uma ereção ao ver o melhor amigo nu. A ereção lhe doía, como um espigão a
cortar o tecido da bermuda. O sentimento de culpa latejava, alertando que ele
queimaria no inferno. Em contrapartida, lhe deliciava a perspectiva de transar
com outro homem. Ou sequer ter algum contato sexual. Percebera que transar com
homens poderia ser surpreendentemente bom. Num arranco, se afastou da igreja,
dando desculpas esfarrapadas. Sabia que não se afastava por conta de sua
sexualidade, e sim porque se cansara daquilo. Não tinha mais sentido, não tinha
mais prazer. Então se entregou aquilo que há muito lhe atormentava. Abriu uma
porta, e o que ali havia lhe mostrou um mundo completamente novo.
Junto com as relações com
homens, vieram os hábitos de beber e fumar. Sua sede de conhecimento aumentou,
lhe forçando a buscar o tão sonhado presente de Atena em refúgios escuros.
Julgava que mantinha uma vida boa, conciliando os estudos com o lazer. Nem o
vestibular iminente lhe incomodava. Podia contornar aquilo. Podia contornar tudo.
Fez 18 anos. E começou a
sentir uma profunda melancolia. Permanecia fazendo as coisas que já fazia, mas
agora parecia que aquilo tudo não tinha mais sentido. Era tomado por um
profundo sentimento de cansaço. Metaforicamente, tentava ver o horizonte. E tudo
que via era um cinza, um cinza tênue de nevoeiro. Conseguia enxergar a paisagem
lá no fundo, embora distorcida, mas não conseguia ver o caminho até lá.
Sentia-se atordoado, parecia que enfim tinha chegado ao ápice de tudo que
sonhara. A adolescência lhe escapava pelos dedos, finalmente. Duas décadas de
vida se aproximavam, e ele não tinha a menor ideia de como agir. O que lhe
esperava era segredo até mesmo pros mais sábios, aqueles que já viveram essa
fase. O que lhe restava era esperar o nevoeiro passar, o caminho surgir
radiante como o amanhecer.
Entretanto, o cinza lhe
abraçava como um amante. E o seu abraço era frio como a morte.