quarta-feira, 2 de julho de 2014

Especial - As Crônicas de Gelo e Fogo e o Tem

Em 1996 despontou As Crônicas de Gelo e Fogo (A Song of Ice and Fire), quando depois de muito tempo o norte-americano George R. R. Martin decidiu publicar aquela que seria uma das sagas de fantasia mais aclamadas dos últimos anos. O segundo domo, A Fúria dos Reis, foi publicado dois anos depois e não muito tempo o terceiro volume, A Tormenta de Espadas. A partir daí surgiu o maior desafio que ASOIAF tem enfrentado: o tempo.

Há um período de anos bastante significativo entre o Tormenta de Espadas e o Festim dos Corvos, quarto livro da série. E ainda mais significativo entre o Festim e o Dança dos Dragões. E isso sem comentar o fato que o sexto romance, Ventos do Inverno, não possui data definida. Em suma: o tempo de publicação dos livros é o grande problema na vida de todos aqueles que estão envolvidos com a saga: dos fãs até o próprio Martin.

O ponto que se deve ressaltar é: é justo esse tempo de espera?

Justiça é algo que não se encontra tão facilmente em ASOIAF. Desde a decapitação de Ned Stark em Guerra dos Tronos, até a “morte” do Jon Snow em Dança dos Dragões, somos compelidos a perguntar-nos frequentemente o que é justiça. Por mais que essas figuras sejam ficcionais, por mais que toda trama não passe de pura imaginação (mas com gloriosas pintadas de história real), sentimos o baque de sentir a injustiça repetidas vezes, nos livros e na vida. Muita gente busca a literatura para escapar do seu cotidiano, que muitas vezes é repleto de injustiça, crimes, dores, angústias... Mas são justamente isso que encontramos n’As Crônicas.

Nesse ponto, somo masoquistas: porque persistir numa leitura que de certa forma nos trás desconforto? Porque, enfim, esperar anos e anos para ler um livro que nos fará chorar e causar ranger de dentes?

Porque sem dor, não há literatura. Sem dor e sem demora, não há ASOIAF.

Martin nunca nos prometeu conforto em seus livros, nunca nos prometeu finais felizes e previsíveis. A função do George, como escritor, é nos tirar da zona de conforto. Dar-nos aquele soco na boca do estômago. Quem acompanha a saga, ou até mesmo a série televisiva, percebe a complexidade da obra. Percebe que a história que tem em mãos ou que suas retinas captam não é só a velha baboseira medieval. É uma história que poderia ser contada em qualquer época, em qualquer lugar. E principalmente, é uma história que preza seus personagens. São eles que movem tudo, são eles que nos fazem suspirar de alívio ou gemer de dor a cada virar de página. E causar esses sentimentos, meus caros, é difícil. Requer tempo, requer estudo, requer dedicação. A facilidade em apontar um dedo acusador pro George Martin é facílimo. Mas pimenta nos olhos dos outros é refresco. Imaginem a posição do velho homem de Santa Fé: cobrado, tendo que escrever um livro onde tudo enfim irá convergir, onde tudo finalmente irá acontecer. Suponho que leitores do Dança dos Dragões tenham sentido algo a mais: um retesar, um recuo, como uma corda do arco. Uma preparação de todos os personagens do drama, enfim prontos para o tenebroso inverno que chegou.

O tempo nos é crucial na vida, e disso todos tem ciência. Mas então porque o tempo não pode agir em ASOIAF? Querem os fãs um livro esfarelado, ruim? Na opinião do humilde escritor, deixem o George Martin escrever. E que isso dure o tempo necessário. A ansiedade existe por parte de todos, sim. Mas meus caros, é o maldito inverno que chegou a Westeros. Vocês realmente têm certeza que estão prontos para ele?

E lembrem-se: George Martin não é sua vadia.


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