Em 1996 despontou As
Crônicas de Gelo e Fogo (A Song of Ice and Fire), quando depois de muito tempo
o norte-americano George R. R. Martin decidiu publicar aquela que seria uma das
sagas de fantasia mais aclamadas dos últimos anos. O segundo domo, A Fúria dos
Reis, foi publicado dois anos depois e não muito tempo o terceiro volume, A
Tormenta de Espadas. A partir daí surgiu o maior desafio que ASOIAF tem
enfrentado: o tempo.
Há um período de anos
bastante significativo entre o Tormenta de Espadas e o Festim dos Corvos,
quarto livro da série. E ainda mais significativo entre o Festim e o Dança dos
Dragões. E isso sem comentar o fato que o sexto romance, Ventos do Inverno, não
possui data definida. Em suma: o tempo de publicação dos livros é o grande
problema na vida de todos aqueles que estão envolvidos com a saga: dos fãs até
o próprio Martin.
O ponto que se deve
ressaltar é: é justo esse tempo de espera?
Justiça é algo que não se
encontra tão facilmente em ASOIAF. Desde a decapitação de Ned Stark em Guerra
dos Tronos, até a “morte” do Jon Snow em Dança dos Dragões, somos compelidos a
perguntar-nos frequentemente o que é justiça. Por mais que essas figuras sejam
ficcionais, por mais que toda trama não passe de pura imaginação (mas com
gloriosas pintadas de história real), sentimos o baque de sentir a injustiça
repetidas vezes, nos livros e na vida. Muita gente busca a literatura para
escapar do seu cotidiano, que muitas vezes é repleto de injustiça, crimes,
dores, angústias... Mas são justamente isso que encontramos n’As Crônicas.
Nesse ponto, somo
masoquistas: porque persistir numa leitura que de certa forma nos trás desconforto?
Porque, enfim, esperar anos e anos para ler um livro que nos fará chorar e
causar ranger de dentes?
Porque sem dor, não há
literatura. Sem dor e sem demora, não há ASOIAF.
Martin nunca nos prometeu
conforto em seus livros, nunca nos prometeu finais felizes e previsíveis. A
função do George, como escritor, é nos tirar da zona de conforto. Dar-nos
aquele soco na boca do estômago. Quem acompanha a saga, ou até mesmo a série
televisiva, percebe a complexidade da obra. Percebe que a história que tem em
mãos ou que suas retinas captam não é só a velha baboseira medieval. É uma
história que poderia ser contada em qualquer época, em qualquer lugar. E
principalmente, é uma história que preza seus personagens. São eles que movem
tudo, são eles que nos fazem suspirar de alívio ou gemer de dor a cada virar de
página. E causar esses sentimentos, meus caros, é difícil. Requer tempo, requer
estudo, requer dedicação. A facilidade em apontar um dedo acusador pro George
Martin é facílimo. Mas pimenta nos olhos dos outros é refresco. Imaginem a
posição do velho homem de Santa Fé: cobrado, tendo que escrever um livro onde
tudo enfim irá convergir, onde tudo finalmente irá acontecer. Suponho que
leitores do Dança dos Dragões tenham sentido algo a mais: um retesar, um recuo,
como uma corda do arco. Uma preparação de todos os personagens do drama, enfim
prontos para o tenebroso inverno que chegou.
O tempo nos é crucial na
vida, e disso todos tem ciência. Mas então porque o tempo não pode agir em
ASOIAF? Querem os fãs um livro esfarelado, ruim? Na opinião do humilde
escritor, deixem o George Martin escrever. E que isso dure o tempo necessário.
A ansiedade existe por parte de todos, sim. Mas meus caros, é o maldito inverno
que chegou a Westeros. Vocês realmente têm certeza que estão prontos para ele?
E lembrem-se: George Martin
não é sua vadia.
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