sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Senhor da Curva do Tempo

Ainda enxergo o cinza enfeitando o horizonte. Calmo, paciente e completo. Sigo tateando, procurando em mim mesmo a bússola quebrada. Eu preciso me orientar, repito. Preciso achar a saída disso. Mas o cinza me cobre, me lava e me enche. Ele é meu homem, é meu amante e é meu amor. A quem quero enganar ao sorrir, ao brincar, ao fazer piadas? A minha alma turva se retrai cada vez mais e não são poucos os esforços para buscá-la mas ela escapa das minhas mãos.

O cinza tirou minha fé. A bíblia agora são folhas amareladas e soltas no meio dos livros seculares. Deus não me ouve, não presta atenção. Tento ser racional, e enfim decidir o que quero. Mas o cinza é senhor, senhor da curva do tempo.

Ainda não vejo a saída do cinza, mas ela existe. Em mim e nos outros, nisto ou naquilo. No meu eterno pecado e deleite, no meu riso e minha perspicácia. Que o cinza saiba enfim da madeira de lei que é meu desejo de viver e existir.

E ele não me corrói.

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