domingo, 4 de setembro de 2016

Rua do Apolo

Entendo teu jeito mas não gosto.

Ele disse isso com um cigarro atravessado na boca e o rosto composto numa expressão de tédio. Tédio, tédio, tédio... os carros passavam lentos na rua apinhada de gente, a boate piscando mil cores, ambulantes vendendo três cervejas a dez reais, cheiro de noite no seu auge. Eu estava no brilho, com um copo de plástico com alguma bebida no qual não sabia o que era, e olhava para os seus lábios carnudos de um jeito débil. Ele olhava agora com um certo desprezo, escárnio. Eu não era mais interessante, se um dia eu fui. Ele olhava pros lados parecendo ansioso por alguém, eu olhava pra baixo buscando refúgio. Ambos procurávamos paz e descanso, amor e tesão, amizade e carinho. E nós tínhamos achado isso um no outro. Mas preferimos ignorar e esquecer. Por ora.

Ele jogou o cigarro fora e saiu pisando forte, embora estivesse mais bêbado do que eu. A mim restou sentar na calçada, e curtir um brega que começava a tocar no bar.

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