sábado, 28 de maio de 2016

Homossexuais Também Sabem Mentir

O que Ulisses propunha para si mesmo, no auge dos seus tumultuosos vinte anos de vida, era poupar-se de desgastes desnecessários. O cacto perigosamente equilibrado na janela demandava mais cuidados do que um numero expressivo de pessoas em sua vida, demandava um carinho outrora apenas direcionado a homens que não mereciam. O que Ulisses almejava mais que tudo era sair incólume do festim de dores, sair ileso do carnaval de trivialidades que pareciam surgir de todos os lugares. Ele necessitou pausar momentos cruciais de sua vida para perceber que nem tudo que reluz é ouro, que homossexuais também sabem mentir.

Tão docemente introduzido a conceitos desconhecidos, Ulisses conheceu o amor aos 17. Ele era alto, magro e branco. Não gostava desse tipo de homem, sentia que não deveria ceder mais prazeres a um grupo completamente privilegiado em todas as instâncias. Mas foi, cedeu a prazeres carnais, e naquele momento, chamou de prazeres imundos. A palavra sagrada girava na sua cabeça constantemente o lembrando de suas sinas. Mas o rapaz o convenceu a ficar, a tentar mudar o quadro. Olhando por um lado bom, Ulisses aprendeu e se aceitou, e compreendeu que não havia absolutamente nada de errado com ele. O gentil rapaz disse que o amava, e ele acreditou.

Merda, ele acreditou.

E sim, ele estava mentindo. E a dor dessa mentira o feriu mais que mil agulhas o machucariam. Conheceu enfim o amargo gosto da decepção, entendeu que pessoas fingem. Deus voltou a trovejar e exclamar que ele iria para o inferno. E Ulisses chorou por homem, chorou pelo sexo, chorou por amor.

Depois de tanto chorar Ulisses se levantou, maior que seus medos e maior que suas angústias. Saiu e bebeu e amou diversos homens. Adotou uma planta, adquiriu novos hábitos, conheceu pessoas. E a vida voltou a florescer. Hoje percebe seus erros, e ri deles. E constata, com um sorriso de canto de boca, que a mentira não possui sexo.

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