quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Vida Lá Fora

Naquela rodinha de amigos enquanto todos fumavam maconha, ele pensava. Pensava, pensava... Pensava em ir embora dali. Ali não era seu lugar. Um lugarzinho bem profundo em sua consciência martelava lhe dizendo que aquilo era errado, que Deus o julgaria. Ele recusava todas as vezes que lhe oferecia o cigarro, compenetrado em seus pensamentos. Eles já tão chapados não estranhavam. O que seus pais iriam dizer se o visse em companhia de maconheiros. Ele cairia em desgraça, a honra da família ultra cristã e conservadora ficaria maculada. Só conseguira escapar aquela noite pois estava em uma festa de amigos de confiança, amigos que os seus pais juravam que eram crentes devotos. Ele enfim viu a hora. 23h. Não daria pra ir sem levantar suspeitas. Então se encostou no sofá, e quando o baseado lhe foi ofertado mais uma vez, ele aceitou.

Não era a primeira vez que fumava, e muito menos a primeira vez que bebia. Às vezes fumava cigarros no pátio da escola e já tinha transado com umas garotas. Um adolescente “saudável”. Mas ele precisava de mais, e ele tinha plena certeza disso. A vida não era só feita de maconha, bebida e fodinhas. A vida era mais. Era aquilo invisível sobre o visível, era aquilo que acontecia pra valer no mundo lá fora. Eles só eram uns garotinhos da classe média que se achavam o máximo por fazerem o que estavam fazendo. Mas eles todos sabiam – e ignoravam – a vida lá fora. Os homens simples que movimentavam o país e as mães solteiras que faziam o impossível para darem vida digna aos filhos. Eram seus próprios pais, que mesmo envoltos nas cortinas da hipocrisia e da rotina, lhe proporcionavam o pão. Mas eles não se interessavam por isso. Apenas ele se importava, apenas ele tinha ânsia de viver tudo que haveria de ser vivido.

E quando de repente a porta se abriu e os pais de quase todos ali romperem aos berros, ele mantinha uma expressão serena. De alguém pronto para viver. Sim, no fundo ele sabia que aquelas indagações soavam estúpidas. Mas ele também sabia que viveria mais intensamente do que os seus amigos. Sem ser notado, saiu do aposento e foi ver a cidade. Pálida, trêmula, esguia. Ele sorriu. A vida começava agora. 

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