Era a boca. Definitivamente era a boca. A perfeição em forma
de lábios. O doce negrume que me chamava cada vez mais. Que lambia com
delicadeza, que beijava com fervor. E quando se afastava de mim, eu faltava
suplicar e pedir feito criança. Decidida, não retornava. Ia embora. Só voltava
quando queria. E eu permanecia chorando e suplicando. Mas crianças precisam ser
repreendidas.
Eram os braços. Definitivamente eram os braços. Fortes,
rígidos, alvos. Que me seguravam com tamanha destreza. Que me envolviam com
doçura. Ali eu encontrava acalento. Eram meus portos seguros. Mas eles também
iam embora. Jogava-me no ar, eu suspenso no nada, e me deixavam cair. Nada
adiantava implorar.
Era o genital. Íntimo, incauto. Portal de noites de prazer, dono da minha satisfação. O único que tinha o poder de dissolver qualquer mau humor. Era aquilo que mantinha o segredo da plenitude. Mas ele não estava isento. Ia embora.
Era o coração. Perfeito, forte, íntimo. Era o coração o
centro de todo nós, o local exato da extrema felicidade. Ali não tinha como
discordar ou discutir. Ali, e só ali, eu sentia que as coisas ficariam bem. O
coração, em seus múltiplos batimentos, emanava a essência do nosso amor. Mas
lógico, este também fora embora. E
quando este partiu, acho que perdi a noção das coisas. Desaprendi o significado
de “perfeição, força e intimidade” em relacionamentos. Agora permaneço só.
É a solidão.
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