sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Corpo

Era a boca. Definitivamente era a boca. A perfeição em forma de lábios. O doce negrume que me chamava cada vez mais. Que lambia com delicadeza, que beijava com fervor. E quando se afastava de mim, eu faltava suplicar e pedir feito criança. Decidida, não retornava. Ia embora. Só voltava quando queria. E eu permanecia chorando e suplicando. Mas crianças precisam ser repreendidas.

Eram os braços. Definitivamente eram os braços. Fortes, rígidos, alvos. Que me seguravam com tamanha destreza. Que me envolviam com doçura. Ali eu encontrava acalento. Eram meus portos seguros. Mas eles também iam embora. Jogava-me no ar, eu suspenso no nada, e me deixavam cair. Nada adiantava implorar.

Era o genital. Íntimo, incauto. Portal de noites de prazer, dono da minha satisfação. O único que tinha o poder de dissolver qualquer mau humor. Era aquilo que mantinha o segredo da plenitude. Mas ele não estava isento. Ia embora.

Era o coração. Perfeito, forte, íntimo. Era o coração o centro de todo nós, o local exato da extrema felicidade. Ali não tinha como discordar ou discutir. Ali, e só ali, eu sentia que as coisas ficariam bem. O coração, em seus múltiplos batimentos, emanava a essência do nosso amor. Mas lógico, este também fora embora.  E quando este partiu, acho que perdi a noção das coisas. Desaprendi o significado de “perfeição, força e intimidade” em relacionamentos. Agora permaneço só.


É a solidão.

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