quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Hora da Solidão

Meus pés me comandavam agora. Mas lá no fundo eu tinha noção de que deveria sair dali o mais rápido possível. Havia sangue em minhas mãos. Escarlates, rubros, vermelhos, brilhantes. Eu sentia um frio horrível na espinha, como se alguém tivesse me alisado com uma faca. A rua estava calma, meia-noite declarada. E eu tinha acabado de cometer um assassinato.

Se eu fechasse os olhos, ainda podia vê-la estirada numa poça de sangue. A faca a pingar o líquido nas minhas roupas. Os cães começarem a latir, chamando atenção. O seu rosto estava estampado o mais medonho dos medos. Não me arrependo do que eu fiz, mas se pudesse voltar no tempo eu teria tomado uma decisão melhor.

Era como sentir seu ânimo ser sufocado aos poucos. Imagina uma pessoa que sempre jurou te amar, te defender, te dar carinho. E que se essas coisas fossem esquecidas quando você tivesse dito aquilo. Eu quero, mas não consigo perdoa-la. Fazer isso seria ir contra mim mesmo. Ela teve o que mereceu, enfim reconhecia. Ainda era um ato abominável, assassinar a própria mãe, mas ela também não havia cometido um erro ao me odiar após eu ter dito que preferia os homens?


Não tinha lua naquela noite. Não havia malandros e prostitutas nas vielas e bares. Nem sequer havia vira-latas a ganir. Eu estava só no mundo agora. Mas pra falar a verdade, acho que sempre estive só. 

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