Pouco a pouco, Mariano se aninhou em meus braços. Seu peito
definido, seus músculos rijos como pedra em contato com o meu. Passou as mãos
nos meus cabelos e desceu até o lóbulo da minha orelha direita. E numa voz que
era uma mistura de desejo e rouquidão, disse:
- Agora, por favor.
Eu obedeci. Minha mão rapidamente desceu em seus genitais.
Uma sutil brincadeira na madrugada. Ouvia seus gemidos fracos, suas súplicas de
prazer, suas leves mordidas na minha orelha. E eu, hábil, a brincar com seu
pênis. Não muito tempo após ter começado, senti um líquido espesso escorrer
pela minha mão. E Mariano soltou um suspiro de alívio, de prazer. Deu-me um
rápido beijo e foi ao banheiro. Durante todo o ocorrido, eu não havia sentido
nada. Nadinha mesmo. Era como se fosse uma criança entediada brincando com um
brinquedo do qual menos gostava. O chuveiro foi ligado. Mariano cantava
baixinho, feliz da vida por causa de uma punheta. Eu não o culpo. Ele não tem
nada a ver com meus problemas.
Alias, talvez até tenha. E talvez ele seja o principal
problema. Após dois anos de um relacionamento satisfatório, com altos e baixos
comuns, o amor enfim acabava. Da minha parte pelo menos. Não sei o que
ocasionou isso. Tento pensar, tento puxar do fundo da memória o momento em que
tudo mudou. Mas não encontro a lembrança exata. Apenas que de uma hora pra
outra o amor acabara.
Eu queria dizer a Mariano, dizer o quanto sentia muito. Mas
não tenho coragem, ele me parece tão feliz. Logo agora que foi promovido em seu
trabalho. Nós passamos por tanta coisa, por tantas barreiras, para acabar
assim. Não me reconheço. Eu amava o cara que estava no banheiro. Mas agora...
Sinto apenas simpatia, amizade, nem sei definir.
Enfim levanto da cama. Olho-me no espelho. Apenas uma sombra
da mulher que fui. Negras olheiras manchavam meu lindo rosto. Fios brancos já
começavam a aparecer. Fiquei mais magra, meus dedos parecem galhos de árvore.
Então desatei a chorar, baixo pra Mariano não ouvir. Que tola eu sou. Que cega
eu fui. Reconheço agora que eu percebia que o amor tinha acabado, mas não
queria desistir daquele relacionamento. Eu não sei por que permaneci nessa
ilusão. Então surge uma desagradável ideia.
Eu iria embora. Pra bem longe do Mariano. Ele não merecia
ser infeliz ao meu lado. Por milagre, ele não saiu do banheiro enquanto eu
arrumava minhas coisas. Escrevi uma pequena carta, explicando ou pelo menos
tentando explicar os motivos do término. Parei por um instante na frente da
porta. Tentei ouvi algum ruído dentro do banheiro, mas só havia silencio. Então
um tiro ecoa pela madrugada.
Desesperadamente tentei abrir a porta, mas estava trancada e
bloqueada por alguma coisa. Chutei, esmurrei, empurrei com o ombro. Nada.
Procurei pelo quarto. Não tinha nenhum objetivo que me fosse útil. Os vizinhos
já se acordavam. Eu chorava descontroladamente, temendo o pior. Forcei mais uma
vez e percebi que o peso que estava na porta caiu. Abri, e me deparei com uma
cena que nunca mais vou esquecer.
Mariano estava sentado no vaso, com a cabeça banhada em
sangue. Ainda estava molhado por causa do banho, com a água descendo pelas suas
pernas. Tinha um revolver que eu desconhecia a origem na mão, que repousava no
seu colo. Seus olhos abertos eram apavorantes, e sua boca cheia de vísceras me
causou enjoos. Sentei-me no chão, já sem forças pra chorar ou permanecer em pé.
Por que ele fez aquilo consigo mesmo? Tinha uma vida toda pela frente, com um
ótimo emprego e família e amigos que o amavam. Lentamente foi me aproximando do
corpo, a fim de pegar um pedaço de papel que estava preso na outra mão.
Ali dizia que o motivo de sua morte era que ele não me amava
mais. E ele sabia que eu também não o amava. E que só iria se matar porque não
imaginava sua vida sem mim. E só. Minha vontade na hora foi socar o corpo dele.
Eu não valia uma vida, ninguém vale. Ele não tinha o direito de se matar por um
motivo tão banal. Então fui ver se na arma havia alguma outra bala. Não tinha.
Talvez ele tenha temido que eu me matasse também, após ver seu corpo inerte.
Levantei-me, com as lágrimas já secas, e fui pra janela. Era isso, eu iria me
matar também. Que burro, que burro! Se ele não me amava mais, como não podia
imaginar sua vida sem mim? Acredito que tinha outros motivos, ignorados por
mim. Mas agora isso não importava. Iria me matar, por motivos fúteis. Pois tudo
isso foi ocasionado por motivos fúteis.
Ao acordar dentro de uma ambulância, ouvia uma voz distante
a murmurar palavras incompreensíveis. O enfermeiro dizia palavras de conforto,
lamentando o ocorrido. Aquele enfermeiro é tão parecido com o Mariano, pensei.
Então recomecei a chorar. Eu devia ter conversado com ele antes, tentado
consertar mais uma vez as coisas. Mas agora era tarde demais. Iria ter esse
peso na consciência pro resto da vida. Adeus ao Mariano, pois ele foi embora. E
enfim levou um pedaço de mim comigo. Aquele pedaço aonde residia o amor e
afeição que existia entre nós.
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