Agora você vai embora e eu não sei o que
fazer,
Ninguém me explicou na escola, ninguém vai
me responder.
Educação Sentimental – Kid Abelha
Ventos criam uivos sinistros nas frestas, mas não me
importo. A chuva começa a cair, molhando a cortina, mas também não me importo.
O que me importa não se importa comigo. Ela foi embora e deixou um pedaço de si
mesma na casa. Seu perfume está impregnado em tudo. Algumas roupas ainda
estavam ali, para minha tortura. Pegava-me cheirando-as, desejando intensamente
que sua dona ali estivesse. O que realmente tinha ocasionado sua ida não estava
definido e talvez nunca seja. Aonde quer que eu olhe, nos quadros, nos retratos,
na cozinha, no banheiro, no quarto, a via, exalando sua beleza para quem
quisesse ver e sentir.
Com uma xícara de café como companhia, volto a lembrar de
momentos alegres desfrutados ao seu lado. A primeira vez
que saímos juntos, nosso primeiro beijo, nossa primeira noite... Tudo voltava
num confuso emaranhado, como uma onda forte que bate e derruba.
Quando percebi, lágrimas quentes brotavam-me dos olhos. E
elas foram caindo no café. Comecei a observar seu trajeto, e logo em seguida
bebi o líquido. Minhas lágrimas amargaram a bebida, deixando-a intragável. Ou
talvez seja meu próprio paladar, que talvez também tenha me abandonado.
Segui-me então para o quarto, sentando próximo a janela. A
chuva já estava forte, batendo com força no vidro. Não podia ver a rua por
completo, pois a chuva não deixava. E era assim que eu estava: embaçado, cego.
Já não a tinha e não sabia o que ia fazer. Meu Deus, como a fui perder? Nosso
amor, tão forte e inabalável, tinha acabado por motivos fúteis. Esfreguei o
rosto com as mãos, a fim de espantar aquele pensamento. Impossível. A sua
imagem estava fixada em minha mente. Podia sentir seu hálito, seu corpo em
atrito com o meu, seu rosto amassado de manhã, um sorriso estampado. Voltei a
chorar, dessa vez com mais intensidade. E de repente gritei, gritei até minha
voz fraquejar. Gritei desesperadamente seu nome, implorando para que voltasse.
Nada aconteceu. Então enxuguei as lágrimas e voltei a observar a chuva, que
impiedosa batia em minha janela.
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