quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A Onipresente

Agora você vai embora e eu não sei o que fazer,
Ninguém me explicou na escola, ninguém vai me responder.

Educação Sentimental – Kid Abelha


Ventos criam uivos sinistros nas frestas, mas não me importo. A chuva começa a cair, molhando a cortina, mas também não me importo. O que me importa não se importa comigo. Ela foi embora e deixou um pedaço de si mesma na casa. Seu perfume está impregnado em tudo. Algumas roupas ainda estavam ali, para minha tortura. Pegava-me cheirando-as, desejando intensamente que sua dona ali estivesse. O que realmente tinha ocasionado sua ida não estava definido e talvez nunca seja. Aonde quer que eu olhe, nos quadros, nos retratos, na cozinha, no banheiro, no quarto, a via, exalando sua beleza para quem quisesse ver e sentir.

Com uma xícara de café como companhia, volto a lembrar de momentos alegres desfrutados ao seu lado. A primeira vez que saímos juntos, nosso primeiro beijo, nossa primeira noite... Tudo voltava num confuso emaranhado, como uma onda forte que bate e derruba.

Quando percebi, lágrimas quentes brotavam-me dos olhos. E elas foram caindo no café. Comecei a observar seu trajeto, e logo em seguida bebi o líquido. Minhas lágrimas amargaram a bebida, deixando-a intragável. Ou talvez seja meu próprio paladar, que talvez também tenha me abandonado.


Segui-me então para o quarto, sentando próximo a janela. A chuva já estava forte, batendo com força no vidro. Não podia ver a rua por completo, pois a chuva não deixava. E era assim que eu estava: embaçado, cego. Já não a tinha e não sabia o que ia fazer. Meu Deus, como a fui perder? Nosso amor, tão forte e inabalável, tinha acabado por motivos fúteis. Esfreguei o rosto com as mãos, a fim de espantar aquele pensamento. Impossível. A sua imagem estava fixada em minha mente. Podia sentir seu hálito, seu corpo em atrito com o meu, seu rosto amassado de manhã, um sorriso estampado. Voltei a chorar, dessa vez com mais intensidade. E de repente gritei, gritei até minha voz fraquejar. Gritei desesperadamente seu nome, implorando para que voltasse. Nada aconteceu. Então enxuguei as lágrimas e voltei a observar a chuva, que impiedosa batia em minha janela. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário