terça-feira, 8 de outubro de 2013

Pintura de Pessoas Felizes

A cortina não deixava entrar a luz do sol no quarto. Caio estava deitado havia horas, sem chegar a nenhuma conclusão sobre como resolver sua vida. Suas desilusões amorosas tinham massacrado tanto seu coração, que Caio passava não sentir nenhum sentimento ligado ao amor ou a afeição. Máculas, borrões, manchas, cortes... Sua alma parecia um retalho, um pano velho, que de costurado tantas e tantas vezes era impossível de dizer qual era sua forma original. Caio vagarosamente se levantou e foi espiar pela janela. As pessoas caminhavam apressadas, ocupadas demais com suas vidas, ignorantes aos assuntos sentimentais. O sol fazia seu trajeto ao crepúsculo, criando um clima agradável nas ruas arborizadas e nas praças verdejantes. Animou-se com a ideia, e vestiu-se para uma caminhada.

Arrependeu-se nos primeiros dez minutos. Todas aquelas pessoas pareciam felizes demais para o seu gosto. Talvez estivessem fingindo, talvez não. O que importa é que elas estavam sorrindo, brincando como se a vida não além fosse de felicidade e sorrisos bobos.

- Mas estão certas... – murmurou Caio – Eu devia estar sorrindo ao invés de chorando.

Quando percebeu que estava falando consigo mesmo, sorriu pela primeira vez em dias. Estou ficando louco. Maldita fora a hora em que deixou que tais problemas tomassem conta de sua vida. Fora fraco, estúpido, incapaz de lidar com as mais banais dificuldades. Mas ele via o lado positivo. Tinha amadurecido bastante nesse meio tempo, pensando em coisas nunca antes cogitadas. Era surpreendente até. Nunca fora uma pessoa desinformada, pelo contrário. Gostava de ler e de saber sobre diversas coisas. Mas era inegável que esse seu dilema o estava transformando em um novo homem. Homem esse capaz de novos desafios e tristezas, capaz de ter controle suficiente sobre seus sentimentos.


Caio se levantou do banco que estava sentado e foi comprar uma pipoca. Há tempos não comia uma pipoca de praça. Não sabia se foi a pipoca ou se foi alguma outra coisa, mas algo aconteceu. Caio voltou a notar a felicidade daquelas pessoas. Pássaros assobiavam nos seus poleiros. Casais namoravam abaixo desses poleiros, curtindo a companhia um do outro. Mamães levavam seus filhos para uma caminhada, sorrindo toda vez que uma das crianças apontava extasiada para alguma coisa perguntando o que era. Até no sorriso torto do pipoqueiro havia beleza. Caio percebeu que também estava feliz, seus problemas eram irrelevantes agora. A impressão que tinha era que aquela paisagem era uma pintura, e uma pintura digna de ser apreciada com todo o carinho. Voltou a se sentar, para poder comer sua pipoca com todo o conforto e com toda a felicidade do mundo. Sabia que seus problemas não se dissipariam com facilidade. Mas realmente não interessava agora. Ele apenas queria fazer parte daquela pintura de pessoas felizes, intocada na selva de tristeza que era a sociedade.

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