A cortina não deixava entrar a luz do sol no quarto. Caio
estava deitado havia horas, sem chegar a nenhuma conclusão sobre como resolver
sua vida. Suas desilusões amorosas tinham massacrado tanto seu coração, que
Caio passava não sentir nenhum sentimento ligado ao amor ou a afeição. Máculas,
borrões, manchas, cortes... Sua alma parecia um retalho, um pano velho, que de
costurado tantas e tantas vezes era impossível de dizer qual era sua forma
original. Caio vagarosamente se levantou e foi espiar pela janela. As pessoas
caminhavam apressadas, ocupadas demais com suas vidas, ignorantes aos assuntos
sentimentais. O sol fazia seu trajeto ao crepúsculo, criando um clima agradável
nas ruas arborizadas e nas praças verdejantes. Animou-se com a ideia, e
vestiu-se para uma caminhada.
Arrependeu-se nos primeiros dez minutos. Todas aquelas
pessoas pareciam felizes demais para o seu gosto. Talvez estivessem fingindo,
talvez não. O que importa é que elas estavam sorrindo, brincando como se a vida
não além fosse de felicidade e sorrisos bobos.
- Mas estão certas... – murmurou Caio – Eu devia estar
sorrindo ao invés de chorando.
Quando percebeu que estava falando consigo mesmo, sorriu
pela primeira vez em dias. Estou ficando
louco. Maldita fora a hora em que deixou que tais problemas tomassem conta
de sua vida. Fora fraco, estúpido, incapaz de lidar com as mais banais
dificuldades. Mas ele via o lado positivo. Tinha amadurecido bastante nesse
meio tempo, pensando em coisas nunca antes cogitadas. Era surpreendente até. Nunca
fora uma pessoa desinformada, pelo contrário. Gostava de ler e de saber sobre
diversas coisas. Mas era inegável que esse seu dilema o estava transformando em
um novo homem. Homem esse capaz de novos desafios e tristezas, capaz de ter
controle suficiente sobre seus sentimentos.
Caio se levantou do banco que estava sentado e foi comprar
uma pipoca. Há tempos não comia uma pipoca de praça. Não sabia se foi a pipoca
ou se foi alguma outra coisa, mas algo aconteceu. Caio voltou a notar a
felicidade daquelas pessoas. Pássaros assobiavam nos seus poleiros. Casais
namoravam abaixo desses poleiros, curtindo a companhia um do outro. Mamães
levavam seus filhos para uma caminhada, sorrindo toda vez que uma das crianças
apontava extasiada para alguma coisa perguntando o que era. Até no sorriso
torto do pipoqueiro havia beleza. Caio percebeu que também estava feliz, seus
problemas eram irrelevantes agora. A impressão que tinha era que aquela
paisagem era uma pintura, e uma pintura digna de ser apreciada com todo o
carinho. Voltou a se sentar, para poder comer sua pipoca com todo o conforto e
com toda a felicidade do mundo. Sabia que seus problemas não se dissipariam com
facilidade. Mas realmente não interessava agora. Ele apenas
queria fazer parte daquela pintura de pessoas felizes, intocada na selva de
tristeza que era a sociedade.
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