sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Dragão da Meia-Noite

Só faltava um maço de cigarros, pois o resto estava ali. Sua angústia, sua fome por vomitar lamentos, bebidas... Tudo ele já tinha. Só restava o maldito cigarro que ele não encontrava em local algum. Saiu titubeante pelas ruas do centro, meia-noite, com dinheiro em punho. Pouco lhe importava os assaltantes, pouco lhe importava o que seus pais e os vizinhos diriam. Chegara o tempo de queimar, queimar o pouco de pureza que ainda lhe restava.

Por sorte encontrou um lugar que ainda permanecia aberto. Comprou logo dois maços, pois sabia que aquilo iria consumir bastante fumo. Voltava pra casa em marcha ainda mais lenta. Ele era o único da família que tinha aquilo, sabia disso. Os seus familiares sabiam, mas disfarçavam. Não queria que as pessoas soubessem que o filho mais novo tinha aquilo.

Ao chegar ao portão de casa, e a mesma já escura, tomou uma decisão no mínimo repentina. Deu meia volta e foi se enveredar pelos becos mal afamados do centro. Abriu um maço e pôs a fumar. Até chegar o seu destino, ele fumara a metade do maço.

A luz do beco praticamente era inexistente. A lua era a maior lâmpada. Sentia um cheiro de suor, cheiro de homem, e de maconha e de sêmen. Havia tantos deles... Homens se amotinando uns em cima dos outros, beijando-se e acariciando-se, pondo mãos em lugares secretos. Ele baixou a cabeça em renúncia a assovios e chamados obscenos. Apenas volta e meia olhava ao redor, procurando o mais interessante deles. Mas ao mesmo tempo ele estava confuso, tímido e queria sair dali o mais rápido possível. Só que ele tinha que fazer aquilo. Tinha que ser feito.

Após doses de uma bebida forte, o loiro o colocou de bruços. E o penetrou tão forte que ele pôs a mão na boca, a fim de não gritar e chamar atenção. O outro o chamava de “viado, bicha, puto” e enfiava seu pau nele, cada vez mais forte. E ele, ao mesmo tempo em que queria gritar, gemia feito um vadio. Quase uivava de tanto prazer que aquilo lhe dava. E quando o esperma do outro escorreu perna abaixo, ele se levantou tão repentinamente como veio e partiu. 


Agora, com o sol despontando no horizonte, ele chora. Arrepende-se tanto de fazer aquelas coisas... Mas aquilo era tão forte e tentador, tão insuportavelmente delicioso, que ele se permitia uma vez mais. Sua família sabia que ele tinha aquilo. Ignoravam esperando que um dia pudesse acabar, que ele enfim saciasse sua fome devassa. Mas ele sabia que aquilo nunca iria morrer. E quando o sol jogou seus raios quarto adentro, encontro-o numa poça de sangue escarlate. Talvez Deus, aquele Deus da igreja de sua infância, o perdoasse. Que sua família, tão ortodoxa, o perdoasse. Que os prostitutos das vielas, que tanto sentiriam sua falta, o perdoasse. Pois ele, em sua tamanha devassidão, não se perdoava. E nunca se perdoaria. 

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