Só faltava um maço de cigarros, pois o resto estava ali. Sua
angústia, sua fome por vomitar lamentos, bebidas... Tudo ele já tinha. Só
restava o maldito cigarro que ele não encontrava em local algum. Saiu titubeante
pelas ruas do centro, meia-noite, com dinheiro em punho. Pouco lhe importava os
assaltantes, pouco lhe importava o que seus pais e os vizinhos diriam. Chegara
o tempo de queimar, queimar o pouco de pureza que ainda lhe restava.
Por sorte encontrou um lugar que ainda permanecia aberto.
Comprou logo dois maços, pois sabia que aquilo iria consumir bastante fumo.
Voltava pra casa em marcha ainda mais lenta. Ele era o único da família que
tinha aquilo, sabia disso. Os seus familiares sabiam, mas disfarçavam. Não
queria que as pessoas soubessem que o filho mais novo tinha aquilo.
Ao chegar ao portão de casa, e a mesma já escura, tomou uma
decisão no mínimo repentina. Deu meia volta e foi se enveredar pelos becos mal
afamados do centro. Abriu um maço e pôs a fumar. Até chegar o seu destino, ele
fumara a metade do maço.
A luz do beco praticamente era inexistente. A lua era a
maior lâmpada. Sentia um cheiro de suor, cheiro de homem, e de maconha e de
sêmen. Havia tantos deles... Homens se amotinando uns em cima dos outros,
beijando-se e acariciando-se, pondo mãos em lugares secretos. Ele baixou a
cabeça em renúncia a assovios e chamados obscenos. Apenas volta e meia olhava
ao redor, procurando o mais interessante deles. Mas ao mesmo tempo ele estava
confuso, tímido e queria sair dali o mais rápido possível. Só que ele tinha que
fazer aquilo. Tinha que ser feito.
Após doses de uma bebida forte, o loiro o colocou de bruços.
E o penetrou tão forte que ele pôs a mão na boca, a fim de não gritar e chamar
atenção. O outro o chamava de “viado, bicha, puto” e enfiava seu pau nele, cada
vez mais forte. E ele, ao mesmo tempo em que queria gritar, gemia feito um
vadio. Quase uivava de tanto prazer que aquilo lhe dava. E quando o esperma do
outro escorreu perna abaixo, ele se levantou tão repentinamente como veio e
partiu.
Agora, com o sol despontando no horizonte, ele chora.
Arrepende-se tanto de fazer aquelas coisas... Mas aquilo era tão forte e
tentador, tão insuportavelmente delicioso, que ele se permitia uma vez mais.
Sua família sabia que ele tinha aquilo. Ignoravam esperando que um dia pudesse
acabar, que ele enfim saciasse sua fome devassa. Mas ele sabia que aquilo nunca
iria morrer. E quando o sol jogou seus raios quarto adentro, encontro-o numa
poça de sangue escarlate. Talvez Deus, aquele Deus da igreja de sua infância, o
perdoasse. Que sua família, tão ortodoxa, o perdoasse. Que os prostitutos das
vielas, que tanto sentiriam sua falta, o perdoasse. Pois ele, em sua tamanha
devassidão, não se perdoava. E nunca se perdoaria.
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