Era preciso sair. Eles não sabiam pra onde, apenas precisam
sair. Sair dali, sair daquela rotina estúpida e suja. O que eles necessitavam
era de espaço e descanso, de um momento de paz. E então assim foi, ambos
pegaram suas carteiras e saíram naquela noite quente de quinta-feira.
Como a quinta-feira é o dia que antecede o fim de semana, há
certo burburinho nos bares e vielas. Eles se enveredaram por elas, e em dado
momento se afastaram. Cada um foi para um caminho diferente: Um foi para um bar
mais boêmio, culto, onde filósofos de botequins e artistas desconhecidos se
encontraram para uns tímidos copos de cerveja. E o outro também foi para um
bar, mas este era diferente. Era sujo, não tocava música de letras bonitas e
sim de letras vulgares. Ali havia um cheiro eterno de urina e álcool, e de
gozo. Aquele cheiro, ele notava, era dele também. E quando ambos estavam bem
confortáveis em seus respectivos lugares, uma repentina chuva arrebentou nos
céus. E foi lavando a cidade, lavando a impureza dos decadentes e dos cultos. E
quando eles dois olharam para o céu, lembraram um do outro. Perdidos no coração
da cidade vazia.
Quando a quinta virou sexta, aqueles dois estavam no auge de
suas embriaguezes etéreas. O primeiro estava numa conversa um tanto confusa
sobre a dialética de Hegel. O segundo estava quase surtando, dançando
freneticamente com uma qualquer. Cada um entrosado em seu respectivo objetivo.
Mas a chuva não parava. Talvez a função daquela chuva fosse lembra-los que tinham
um ao outro. E nem mesmo o que aqueles bares ofereciam podiam separá-los.
Quatro horas da manhã baixou, e o sol despontava pra lá do
mar. Os dois estavam fatigados. Voltaram dos seus nichos, que ainda pareciam
resistir ao iminente sol. Apenas pensavam em sua cama, pensava um no outro. E
quando finalmente se viram, sorriram. Felizes demais. Após um abraço
desajeitado, subiram apressados. E nem mesmo o cansaço e a embriaguez o
impediram de fazerem amor. Amor, eles fizeram amor. Pois não tinham feito nada
de grave durante aquela noite de quinta-feira. E depois ambos dormiram um no
braço do outro, enquanto o sol começava a surgir. Era sexta-feira agora. Mais um dia começava.
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