quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Quinta-feira

Era preciso sair. Eles não sabiam pra onde, apenas precisam sair. Sair dali, sair daquela rotina estúpida e suja. O que eles necessitavam era de espaço e descanso, de um momento de paz. E então assim foi, ambos pegaram suas carteiras e saíram naquela noite quente de quinta-feira.

Como a quinta-feira é o dia que antecede o fim de semana, há certo burburinho nos bares e vielas. Eles se enveredaram por elas, e em dado momento se afastaram. Cada um foi para um caminho diferente: Um foi para um bar mais boêmio, culto, onde filósofos de botequins e artistas desconhecidos se encontraram para uns tímidos copos de cerveja. E o outro também foi para um bar, mas este era diferente. Era sujo, não tocava música de letras bonitas e sim de letras vulgares. Ali havia um cheiro eterno de urina e álcool, e de gozo. Aquele cheiro, ele notava, era dele também. E quando ambos estavam bem confortáveis em seus respectivos lugares, uma repentina chuva arrebentou nos céus. E foi lavando a cidade, lavando a impureza dos decadentes e dos cultos. E quando eles dois olharam para o céu, lembraram um do outro. Perdidos no coração da cidade vazia.

Quando a quinta virou sexta, aqueles dois estavam no auge de suas embriaguezes etéreas. O primeiro estava numa conversa um tanto confusa sobre a dialética de Hegel. O segundo estava quase surtando, dançando freneticamente com uma qualquer. Cada um entrosado em seu respectivo objetivo. Mas a chuva não parava. Talvez a função daquela chuva fosse lembra-los que tinham um ao outro. E nem mesmo o que aqueles bares ofereciam podiam separá-los. 


Quatro horas da manhã baixou, e o sol despontava pra lá do mar. Os dois estavam fatigados. Voltaram dos seus nichos, que ainda pareciam resistir ao iminente sol. Apenas pensavam em sua cama, pensava um no outro. E quando finalmente se viram, sorriram. Felizes demais. Após um abraço desajeitado, subiram apressados. E nem mesmo o cansaço e a embriaguez o impediram de fazerem amor. Amor, eles fizeram amor. Pois não tinham feito nada de grave durante aquela noite de quinta-feira. E depois ambos dormiram um no braço do outro, enquanto o sol começava a surgir. Era sexta-feira agora. Mais um dia começava. 

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