terça-feira, 29 de outubro de 2013

Saber

Sempre soube daquilo. Sempre. Não houve um momento onde se esquecesse do que era ou aquilo que representava. Aquilo crescia no interior da alma, a espera de um melhor momento para se mostrar. Mas ele sabia, ah sabia... Não podia evitar os olhares discretos, os pensamentos impuros que surgiam quando passavam os rapazes. Ele sempre soube, sempre. Mas nunca tivera a coragem de assumir a existência daquilo.

Então, numa úmida tarde de março, ele não pode mais se conter. Pegou o telefone e ligou para um amigo, perguntando se ele podia vir a sua casa. O amigo disse que podia, desconfiado com tamanha pressa que ele apresentava. Chegou lá meia hora depois, para ser recebido com um beijo repentino. Ele sabia – sempre soubera – que era bissexual e de que aquele amigo também era. Atracavam-se no sofá, aos gemidos e aos sussurros. Conseguiu convencer o amigo. Tiraram as vestes que ainda restavam, e amaram-se ainda mais. Seu amigo era um ótimo passivo. E ele também era. Os dois eram perfeitos um para o outro.

Findo o êxtase, o amigo beijou seu rosto e disse que o amava muito. Disse que queria namorar com ele, que não se importava com o que os outros iriam dizer. Mas ele não queria, pois sabia que as pessoas não aceitariam. Seria melhor se apenas permanecessem daquele jeito, com sexo casual e em datas dispersas. O amigo não aceitava. Deu um último beijo, vestiu as roupas e foi embora.


Ele permaneceu no sofá, deitado e nu. Olhava fixamente para o teto, talvez desejando a reposta. Sabia – ele sempre soubera – que a resposta morava nele, lá no interior da alma. Uma parte dele queria dizer sim, que aceitava o convite de namoro. Outra queria dizer não, que aquilo era perigoso. Ele agora não sabia de nada. Não sabia que caminho trilhar. Não sabia nada, enfim.

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