Sempre soube daquilo. Sempre. Não houve um momento onde se
esquecesse do que era ou aquilo que representava. Aquilo crescia no interior da
alma, a espera de um melhor momento para se mostrar. Mas ele sabia, ah sabia...
Não podia evitar os olhares discretos, os pensamentos impuros que surgiam
quando passavam os rapazes. Ele sempre soube, sempre. Mas nunca tivera a
coragem de assumir a existência daquilo.
Então, numa úmida tarde de março, ele não pode mais se
conter. Pegou o telefone e ligou para um amigo, perguntando se ele podia vir a
sua casa. O amigo disse que podia, desconfiado com tamanha pressa que ele
apresentava. Chegou lá meia hora depois, para ser recebido com um beijo
repentino. Ele sabia – sempre soubera – que era bissexual e de que aquele amigo
também era. Atracavam-se no sofá, aos gemidos e aos sussurros. Conseguiu
convencer o amigo. Tiraram as vestes que ainda restavam, e amaram-se ainda
mais. Seu amigo era um ótimo passivo. E ele também era. Os dois eram perfeitos
um para o outro.
Findo o êxtase, o amigo beijou seu rosto e disse que o amava
muito. Disse que queria namorar com ele, que não se importava com o que os
outros iriam dizer. Mas ele não queria, pois sabia que as pessoas não
aceitariam. Seria melhor se apenas permanecessem daquele jeito, com sexo casual
e em datas dispersas. O amigo não aceitava. Deu um último beijo, vestiu as
roupas e foi embora.
Ele permaneceu no sofá, deitado e nu. Olhava fixamente para
o teto, talvez desejando a reposta. Sabia – ele sempre soubera – que a resposta
morava nele, lá no interior da alma. Uma parte dele queria dizer sim, que
aceitava o convite de namoro. Outra queria dizer não, que aquilo era perigoso.
Ele agora não sabia de nada. Não sabia que caminho trilhar. Não sabia nada,
enfim.
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