terça-feira, 1 de outubro de 2013

Da Existência do Tolo Apaixonado



Havia muros. Tinham grades e arames farpados. Guardas armados até os dentes, prontos a matar qualquer um que ousasse se aproximar. No meio disso tudo tinha um prédio, igualmente bem vigiado e protegido. Lá dentro, depois de infinitas portas codificadas e alçapões bem fechados, existia uma sala. E nesta sala tinha uma caixa. E finalmente dentro dessa caixa, tinha meu coração calejado a pulsar.

Você tinha todas as chaves, todos os códigos, todos os acessos. Você pulava os muros sem dificuldades alguma, você cortava os arames sem nenhum problema. Era camarada dos guardas, que te deixavam passar. Foi você, e só você, o primeiro e único a fazer isso com tamanha perícia. A sua habilidade invejável, seus discursos de amor inflamados, seus métodos não tão convencionais de conquista... Tudo isso contribuíra para a entrega condicional do meu eu. Sim, eu me joguei de uma forma tão abrupta nisso tudo, me desfiz num punhado de sentimentalismos baratos, coloquei tudo a perder. E me diga, pra quê? O que ganhei com isso?  E o pior disso tudo foi a forma como você agiu. Com tamanhas façanhas sentimentais já citadas, me seduziu de uma forma tão covarde e cruel que até hoje me belisco ao me lembrar disso. Usou de toda uma estratégia eficaz para me fazer deixar levar nesta onda de falsos amores. E eu, apaixonado e tolo, cai nesta armadilha.

Aí então fez festa no meu coração. Quebrou, pisou, cuspiu, estraçalhou... Aquilo foi humilhante. Nunca antes fui tão manipulado por tanta frivolidade. Quando enfim despertei do torpor, e ele já ter ido embora, percebi a desgraça. Amaldiçoei-me, jurei que isso nunca iria acontecer novamente e que uma nova fortaleza iria ser feita, mais poderosa do que a anterior. Prometi e clamei tanta coisa, que nem me lembro da metade.
Agora depois de tantos meses, isto recomeça. Novo amor, nova paixão, nova ameaça. O meu cérebro, neste curto e tortuoso período de tempo, não pensa. Apenas existe a vontade de se jogar no mar aberto dos desesperados amorosos. Mas agora não sou tão inocente. Cada vez mais, a cada decepção perpetrada em meu coração, fico mais mordaz e astuto. Não irei me deixar convencer tão facilmente.


O céu desaba neste momento, e eu estou bem debaixo dele. Louco para receber os anjos que dele caem rumo ao inferno carnal das existências humanas. As existências dos tolos apaixonados. 

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