“Ah meu amor... Como eu queria te ter agora nos meus braços.
Acariciar estes teus cabelos negros como a noite, afagar essa tua pele morena.
A noite chega e a minha tortura também. Como poderei eu viver longe da tua
presença? Que sentido haverá na minha existência sem ti?”
Ele repousou a caneta próxima ao caderno. A tinta fresca
brilhava sob a forte luz da lâmpada. Encostou as mãos no papel, como se
quisesse sentir as palavras que há pouco escrevera. Cada letra era a marca de seu sofrimento.
Pobre poeta... Vivia de sua fértil imaginação. Sua amada talvez não lesse
aquele pedaço de infortúnio, mas não importava. Olhou novamente paras as
palavras, agora secas, e voltou a escrever:
“Não haveria maior deleite se tu estivesses em meu lado, como
minha esposa.”
Parou. E de repente, pôs a chorar. Com
violência arremessou o caderno pra longe. De nada serviria aquilo. Nunca teria
seu amor. Então foi na cômoda, pegar sua arma. Voltou a se sentar, e lentamente
colocou o revólver embaixo do seu queixo. Era isso, sua patética vida
terminaria assim. Olhou pra lua, que já estava em seu ápice. Ela sempre fora
sua única companheira, nunca o tinha desamparado. Tentou esboçar um sorriso,
mas estava infeliz demais pra isso. Olhou mais uma vez para o caderno, para o
poema. Ele fora tolo em acreditar que ela lhe amaria algum dia. Escrevera pra
ela, somente ela, e agora morreria sem ver o desejo do seu coração se cumprir.
Voltou a chorar, dessa vez mais calmamente. Observou a arma que brilhava
sinistramente a luz do luar. Fechou os olhos, e puxou o gatilho.
Naquele mesma noite, uma moça morena e de cabelos negros
também se mataria. Os mais íntimos diriam que a causa foi um amor não
correspondido.
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