segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Tinta Fresca

“Ah meu amor... Como eu queria te ter agora nos meus braços. Acariciar estes teus cabelos negros como a noite, afagar essa tua pele morena. A noite chega e a minha tortura também. Como poderei eu viver longe da tua presença? Que sentido haverá na minha existência sem ti?” 

Ele repousou a caneta próxima ao caderno. A tinta fresca brilhava sob a forte luz da lâmpada. Encostou as mãos no papel, como se quisesse sentir as palavras que há pouco escrevera.  Cada letra era a marca de seu sofrimento. Pobre poeta... Vivia de sua fértil imaginação. Sua amada talvez não lesse aquele pedaço de infortúnio, mas não importava. Olhou novamente paras as palavras, agora secas, e voltou a escrever:

“Não haveria maior deleite se tu estivesses em meu lado, como minha esposa.”

Parou. E de repente, pôs a chorar. Com violência arremessou o caderno pra longe. De nada serviria aquilo. Nunca teria seu amor. Então foi na cômoda, pegar sua arma. Voltou a se sentar, e lentamente colocou o revólver embaixo do seu queixo. Era isso, sua patética vida terminaria assim. Olhou pra lua, que já estava em seu ápice. Ela sempre fora sua única companheira, nunca o tinha desamparado. Tentou esboçar um sorriso, mas estava infeliz demais pra isso. Olhou mais uma vez para o caderno, para o poema. Ele fora tolo em acreditar que ela lhe amaria algum dia. Escrevera pra ela, somente ela, e agora morreria sem ver o desejo do seu coração se cumprir. Voltou a chorar, dessa vez mais calmamente. Observou a arma que brilhava sinistramente a luz do luar. Fechou os olhos, e puxou o gatilho.

Naquele mesma noite, uma moça morena e de cabelos negros também se mataria. Os mais íntimos diriam que a causa foi um amor não correspondido.



Nenhum comentário:

Postar um comentário