terça-feira, 15 de outubro de 2013

As Coisas Boas da Vida

Eu não tenho respostas. Alias, não sei se tive algum dia. Apenas perguntas que se amontoam no emaranhado que chamo de consciência. Acendo um cigarro, o melhor que posso comprar. Apartamento decrépito, mas eu gosto dele. Aluguei-o quando saí da casa dos meus pais, aos dezoito. Pouco tempo depois o comprei. Ele me faz sentir independente, sei lá. Gosto dele. Livros empilhados num canto, cinzas por toda parte. Um empreguinho de merda, uma vida medíocre. Sim, tudo isso é uma bosta.

Não tenho vontade de sair, e muito menos dinheiro. Então vou pra cama, ler talvez um Sabino ou Fernando Abreu. Eles me fazem bem, as melhores companhias que tenho. Foram eles, nos meus dezesseis anos, que me deram a brilhante ideia de ir morar sozinho. Bom, é legal. Mas há muitos contras. Enfim, não falarei disso. Mas eu não sei do que eu quero falar. Angélica? Não, não é um assunto agradável. O que ela fez? Apenas partiu meu coração. Um coração partido mil vezes.

Éramos apenas conhecidos, um oi rápido na rua. Até que ela passou a frequentar a biblioteca que eu trabalhava. Conversa vai, conversa vem e chamo-a pra sair. Ela aceita e acontece toda aquela história bonita dos filmes. Mas eis que ela vai e me trai, por um cara ligeiramente inferior a mim. Não imaginava que ela chegaria a tanto, mas... Enfim. Não me descabelei ou fui tomar satisfações. Acabei e voltei a tocar-me violentamente por debaixo dos lençóis. E agora, três meses depois, tudo pareceu um sonho. Encontrei-a algumas vezes. Falamo-nos normalmente, sobre algum livro novo e tal. O que mais me preocupa, acredite, é que não senti ou sinto nenhuma tristeza ou decepção. Apenas aceitei os fatos e segui com a vida. Sou muito bom nisso, pelo visto.

As perguntas sem respostas das quais me refiro são sobre outros assuntos. A vida, o universo e tudo mais. E sobre Deus, sociedade, pessoas. Ando ocupando minha mente com esse tipo de coisa, pois minha vida anda tão monótona que não me resta escolha. São questões que nem os grandes filósofos e nem as religiões conseguem responder por completo. Porque eu responderia? Porque eu saberia? Eu, um cara com um empreguinho de merda e uma vida medíocre.


Meu telefone toca. É uma guria interessante que conheci na noite anterior. Ela quer marcar um encontro. Aceito obedientemente. Não tenho nada melhor pra fazer. O jeito é pisar nos cacos do coração, ou aquilo que ainda me resta, e tentar a sorte de novo. Que a vida é cheia de escolhas isso todo mundo sabe. O que a maioria das pessoas desconhece é que as dúvidas e os erros são mais importantes. E que as perguntas são mais importantes que as respostas. E enquanto houver mistérios e coisas interessantes, mulheres afim de relacionamento, aqui estarei eu. Pois uma vida sem essas coisas é uma vida que não vale a pena ser vivida.

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