Eu não tenho respostas. Alias, não sei se tive algum dia.
Apenas perguntas que se amontoam no emaranhado que chamo de consciência. Acendo
um cigarro, o melhor que posso comprar. Apartamento decrépito, mas eu gosto
dele. Aluguei-o quando saí da casa dos meus pais, aos dezoito. Pouco tempo
depois o comprei. Ele me faz sentir independente, sei lá. Gosto dele. Livros
empilhados num canto, cinzas por toda parte. Um empreguinho de merda, uma vida
medíocre. Sim, tudo isso é uma bosta.
Não tenho vontade de sair, e muito menos dinheiro. Então vou
pra cama, ler talvez um Sabino ou Fernando Abreu. Eles me fazem bem, as
melhores companhias que tenho. Foram eles, nos meus dezesseis anos, que me
deram a brilhante ideia de ir morar sozinho. Bom, é legal. Mas há muitos
contras. Enfim, não falarei disso. Mas eu não sei do que eu quero falar.
Angélica? Não, não é um assunto agradável. O que ela fez? Apenas partiu meu
coração. Um coração partido mil vezes.
Éramos apenas conhecidos, um oi rápido na rua. Até que ela
passou a frequentar a biblioteca que eu trabalhava. Conversa vai, conversa vem
e chamo-a pra sair. Ela aceita e acontece toda aquela história bonita dos
filmes. Mas eis que ela vai e me trai, por um cara ligeiramente inferior a mim.
Não imaginava que ela chegaria a tanto, mas... Enfim. Não me descabelei ou fui
tomar satisfações. Acabei e voltei a tocar-me violentamente por debaixo dos
lençóis. E agora, três meses depois, tudo pareceu um sonho. Encontrei-a algumas
vezes. Falamo-nos normalmente, sobre algum livro novo e tal. O que mais me preocupa,
acredite, é que não senti ou sinto nenhuma tristeza ou decepção. Apenas aceitei
os fatos e segui com a vida. Sou muito bom nisso, pelo visto.
As perguntas sem respostas das quais me refiro são sobre outros
assuntos. A vida, o universo e tudo mais. E sobre Deus, sociedade, pessoas.
Ando ocupando minha mente com esse tipo de coisa, pois minha vida anda tão
monótona que não me resta escolha. São questões que nem os grandes filósofos e
nem as religiões conseguem responder por completo. Porque eu responderia?
Porque eu saberia? Eu, um cara com um empreguinho de merda e uma vida medíocre.
Meu telefone toca. É uma guria interessante que conheci na
noite anterior. Ela quer marcar um encontro. Aceito obedientemente. Não tenho
nada melhor pra fazer. O jeito é pisar nos cacos do coração, ou aquilo que
ainda me resta, e tentar a sorte de novo. Que a vida é cheia de escolhas isso
todo mundo sabe. O que a maioria das pessoas desconhece é que as dúvidas e os
erros são mais importantes. E que as perguntas são mais importantes que as
respostas. E enquanto houver mistérios e coisas interessantes, mulheres afim de
relacionamento, aqui estarei eu. Pois uma vida sem essas coisas é uma vida que
não vale a pena ser vivida.
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