terça-feira, 8 de outubro de 2013

Apreciadores de Morangos

Finalmente eu tinha paz. Mas era uma paz estranha, quase que aterrorizante. Depois de tantas brigas, umas tolas outras não, alcançávamos a tranquilidade. Mas é tudo tão estranho... Podemos nos gabar da liberdade que existia no nosso relacionamento, sim. Só que incrivelmente a liberdade nos pareceu sufocadora. Ou melhor, aquilo que vivíamos era sufocador.

Quando eu te vi fechar a porta, tive a impressão de que as coisas ficariam bem. Notava que enfim estaríamos felizes, verdadeiramente. Fui à janela, vi você apressada indo para o metrô. A cidade te engolia, como uma boca que devora impiedosamente morangos. Alias, são morangos que me nutrem nestes dias. Morangos puros, morangos em leite condensado. Não sei se faz mal, mas sinceramente não me importo.

Tolamente acredito seja você quando alguém bate na porta. Espero seu retorno, pois tenho a certeza que você voltará. Fique ciente de que troquei muitas coisas, principalmente as convicções. E quando você bater a porta meu bem, estarei tão farto de morangos que nem posso imaginar minha reação ao te ver com um pacote deles na mão. Morango era nossa fruta preferida. Ou é?


Viu? Sabia que você voltaria. Lamento, não posso lhe dar mais atenção ou amor. Quer um café? Chá? Morangos? Ou apenas aquelas velhas hipocrisias de sempre? Perdoe-me meu bem, eu sei o que ofereço é medíocre. Mas não tenho coisa melhor. Ora, já vai? Nem vai ficar para o cafezinho? Pena. Pega ali minha agenda. Vou te dar um número. Ligue, e talvez a pessoa que te atenda seja mais interessante do que eu. Talvez te agrade mais, até talvez tenha outra fruta preferida. Talvez não. E aí você volta. Veremos se terei condições de te amar novamente. Qualquer coisa, você pode me encontrar na seção de frutas do supermercado. Eu serei o cara apreciando morangos.

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