Finalmente eu tinha paz. Mas era uma paz estranha, quase que
aterrorizante. Depois de tantas brigas, umas tolas outras não, alcançávamos a
tranquilidade. Mas é tudo tão estranho... Podemos nos gabar da liberdade que
existia no nosso relacionamento, sim. Só que incrivelmente a liberdade nos
pareceu sufocadora. Ou melhor, aquilo que vivíamos era sufocador.
Quando eu te vi fechar a porta, tive a impressão de que as
coisas ficariam bem. Notava que enfim estaríamos felizes, verdadeiramente. Fui
à janela, vi você apressada indo para o metrô. A cidade te engolia, como uma
boca que devora impiedosamente morangos. Alias, são morangos que me nutrem
nestes dias. Morangos puros, morangos em leite condensado. Não sei se faz mal,
mas sinceramente não me importo.
Tolamente acredito seja você quando alguém bate na porta. Espero
seu retorno, pois tenho a certeza que você voltará. Fique ciente de que troquei
muitas coisas, principalmente as convicções. E quando você bater a porta meu
bem, estarei tão farto de morangos que nem posso imaginar minha reação ao te
ver com um pacote deles na mão. Morango era nossa fruta preferida. Ou é?
Viu? Sabia que você voltaria. Lamento, não posso lhe dar
mais atenção ou amor. Quer um café? Chá? Morangos? Ou apenas aquelas velhas
hipocrisias de sempre? Perdoe-me meu bem, eu sei o que ofereço é medíocre. Mas
não tenho coisa melhor. Ora, já vai? Nem vai ficar para o cafezinho? Pena. Pega
ali minha agenda. Vou te dar um número. Ligue, e talvez a pessoa que te atenda
seja mais interessante do que eu. Talvez te agrade mais, até talvez tenha outra
fruta preferida. Talvez não. E aí você volta. Veremos se terei condições de te
amar novamente. Qualquer coisa, você pode me encontrar na seção de frutas do
supermercado. Eu serei o cara apreciando morangos.
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