Por questões de respeito, não irei fumar perto de você. Eu
sei o quanto você odeia cigarro. Então me deixe levantar-me dessa cadeira bamba
e ir à janela, tragar esse veneno. Mas você bebe, e muito. Traga aqui essa
vodca pela metade, temos muito que conversar.
Tempos tumultuados não? Nesse festim maldito de tecnologia e
globalização, nós perdermos a essência. Até bem pouco tempo, éramos capazes de
amar e sermos amados. Hoje, por causa dos aparelhos eletrônicos, creio eu, nos
distanciamos uns dos outros. Os seres humanos não são mais os mesmos e até um
cego vê. Mas não desviemos do alvo: eu e você. Uma tediante retrospectiva? Não,
melhor não. Ok então, passemos então para o ponto crucial. Esse maldito
desgaste que assolou nosso relacionamento.
Quando éramos crianças de verão, como diria o bom e velho
Martin, acreditávamos no amor eterno. A primeira vez que te vi entrando pela
porta daquela sala barulhenta, senti algo muito forte. Você se aproximou,
ficamos amigos, não tardou para que a gente começasse a namorar. Aí você decide
morar comigo (excelente ideia na época) e a premissa seria de um lindo e jovem
casal, sem filhos e cheios de libido, morando no apartamento confortável. Bom,
lógico que isso não aconteceu. Deus adora pregar peças. Depois de um curto
tempo, a rotina bateu na nossa porta. O trabalho tomou conta de nossas vidas de
uma forma que nós não tínhamos tempo nem para nós mesmos. O sexo caiu na
mesmice, as contas se multiplicaram, nós engordamos. Outrora felizes, magros e
viris, agora gordos, infelizes e brochas. Começamos a discutir com frequência,
você fazendo birra por motivos banais, eu sem o menor pingo de paciência. O
pior iria acontecer, mais cedo ou mais tarde: Nós terminamos.
Agora cá estamos. Eu com meu pulmão estragado, você seu
fígado. Ambos flácidos e fatigados, desesperados por uma boa notícia. Um novo
amor quem sabe. Não temos soluções pra isso, o fim é inevitável. Eu permaneço
aqui, e você volta pra puta que pariu. Pegue suas coisas e vai. Posso estar
sendo um tremendo canalha te expulsando assim, como um cão sardento. Mas já não
aguento. E creio que nem você. Sejamos amigos então. Marcar um sábado desses e
tomar uma cerveja, jogar conversa fora. Sinceramente não espero que viremos
inimigos.
Quer uma ajuda com as coisas? Bom, terminemos a vodca. A
noite ainda é um recém-nascido. Vamos fazer uma retrospectiva chata? É o que
ainda nos resta.
Chamei um táxi para você. Beijo na bochecha é estranho né?
Enfim, siga seu rumo e que o Nosso Senhor Jesus Cristo lhe abençoe e lhe guarde.
O que eu irei fazer? Bom, continuarei bebendo, fumando, lendo e escrevendo. É o
melhor que sei fazer. É o melhor que
sabemos fazer. Pois de relacionamentos provamos sermos uns zeros à esquerda.
"Mas você bebe, e muito." eu sei, querido, eu sei
ResponderExcluirLi outrora e gostei. Lendo novamente vejo que me identifiquei bastante com algumas partes, sobretudo pelos recentes acontecimentos. Mas disso você já sabe!
~~xero
Hehehehe Cachaceira.
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